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Dante Filho: Riedel mostra no Roda Viva porque faz a diferença

Governador Eduardo Riedel no 
Programa Roda Vida da TV Cultura

O Brasil inteiro sabe que ser convidado para ser entrevistado no Programa Roda Vida da TV cultura de São Paulo não é pouca coisa. Não que o programa tenha uma audiência estrondosa. Mas o nicho que assiste o que ali acontece pode ser chamado de a elite (intelectual, acadêmica, empresarial e política) do País. 

Trata-se de um telespectador altamente selecionado. Aliás, essa é a tradição construída pelo Roda Viva ao longo de décadas. Por isso, chamou a atenção o fato de Eduardo Riedel ser o primeiro governador de Mato Grosso do Sul a ser convidado pelo programa. 

Não decepcionou. Riedel mostrou-se com desenvoltura para enfrentar o bancada de jornalistas qualificados, que inclusive pautam a grande imprensa brasileira. 

Não gosto de fazer comparações, pois cada governador que passou pelo Parque dos Poderes tinha seu estilo e idiossincrasias. Uns mais tímidos, outros mais pavões, quase todos inseguros para tratar com o chamado jornalismo mainstream em contatos diretos. 

Mas Riedel mostrou que é diferente. Trata dos temas atuais (locais e internacionais) com agudeza de raciocínio, pensamento sofisticado, fala um português correto, e mostra-se atualizado sobre a agenda atual da humanidade. 

Em economia e gestão ele tem um domínio acima da média. Conhece profundamente a legislação da administração pública e está com ela na ponta da língua. É ponderado, não é dado a arroubos histriônicos, sabe ser irônico na hora certa, é sutil e trata seus interlocutores com respeito quase aristocrático. 

Por isso, a entrevista fluiu e assim Riedel conseguiu explicar o papel de Mato Grosso do Sul no cenário nacional como nenhum outro conseguiu fazer até hoje. Ponto pra ele. 

Enfim, Riedel começou a colocar MS no mapa do Brasil. 

Embora sua performance tenha sido elogiosa no campo em que ele domina como nenhum outro (meio ambiente, agronegócio, questões sociais, matriz energética, infraestrutura etc) há setores em que ele tateia no escuro. É normal.

Nas questões que envolveram o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, o governador foi evasivo, pois ele ainda não tem um quadro completo do acontecimento. Riedel é cartesiano. Ele enxerga o quadro por etapas, por isso insistiu esperar o fim das investigações para tomar atitudes punitivas sobre "as falhas identificadas" em todo o processo de atendimento à vitima de um assassinato abjeto.

Ele sabe que o sistema falhou. Ele entendeu que as coisas não andam bem na segurança pública. As corporações transformaram-se numa verdadeira casa da mãe joana (isso em todo o País e em todas as esferas), com cada setor querendo dominar seu naco de poder, desconsiderando hierarquia, leis e a constituição. Por isso, o crime organizado está surfando e até agora ninguém consegue fazer nada.

Talvez só um grande pacto entre as polícias e o Ministério Público possa dar início a um processo de correção de rumo. Mas é difícil fazer alguma coisa quando o sistema está contaminado pelo corrupção, pelo ressentimento, prepotência e pelo deboche às leis. 

Outro ponto fraco de Riedel - a entrevista sugeriu isso - é a política. De fato, está tudo muito confuso, pois seu partido, o PSDB, está sem rumo, não sabe se embarca numa fusão ou numa incorporação, daí as respostas ambíguas de Riedel enquanto ouve-se o tic-tac no fundo. Não queria estar na pele dos dirigentes do tucanato. 

Sabe-se que em decisões coletivas é complicado adotar posições claras quando não há convergência individual de pensamento. Em horas como essa, exige-se lideranças fortes (carismáticas e autoritárias), coisa que o PSDB não tem. Daí, a bagunça. O que vai dar, não se sabe. 

Riedel acredita que permanecerá o quadro de polarização afetiva, o que ele considera péssimo para o País. Ele tem razão. No mundo perfeito, teria que haver mais altruísmo. Ou seja, Lula e Bolsonaro se afastarem do processo de disputa e permitirem que emerjam novas lideranças. Mas isso é ingenuidade demais no atual momento. 

Ninguém arrisca propor essas coisas.

Por fim, achei que que Riedel perdeu a grande chance de se reposicionar em relação a Bolsonaro quando a jornalista Vera Magalhães fechou o programa perguntando o que ele achava de ser considerado o governador mais bolsonarista dentre os tucanos. Foi maldade. Riedel não habita a zona de influência de Bolsonaro, como, por exemplo, o governador Jorginho Melo de Santa Catarina. 

Na verdade, Riedel nem gosta de Bolsonaro depois do que ele aprontou na eleições passada, quando, no debate da Globo,  turbinou a candidatura do Capitão Contar na undécima hora. 

Certamente, depois que terminou o Roda Viva, o governador deve ter pensado nesse assunto. E se perguntado: qual a vantagem de se ligar a Bolsonaro quando se trata de uma pessoa que a cada cinco minutos tem opiniões diametralmente opostas sobre a mesma questão?