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Alexsandro Nogueira*: O adulto na sala - A ironia do conflito israelense

     

Nas guerras que Israel trava com os países vizinhos, já ouvi todo tipo de baboseira. Das mais rasas às mais malucas. O besteirol sempre fica por conta dos militantes progressistas carregados de ressentimento social. Os argumentos começam sempre questionando o apoio americano aos judeus e, em seguida, migram para a ideia de que o terrorismo só existe por causa da pobreza, da exploração ocidental e das multinacionais.

Uma infinidade de asneiras. Porém, dois argumentos não deixam de causar certa impressão pela capacidade de alucinação. O primeiro diz que o Iron Dome, sistema de defesa antiaérea que detecta e destrói os mísseis dos grupos Hamas e Hezbollah direcionados contra civis israelenses, faz com que a guerra seja assimétrica e profundamente injusta.

Eis o raciocínio (se podemos chamar assim) dessas criaturas: os terroristas disparam suas armas contra o território judaico, mas o sistema antimísseis israelense torna esses foguetes largamente ineficazes. 

A conclusão lógica desse pensamento insano é que a força de segurança do Estado de Israel deveria desligar o escudo de defesa para que houvesse igualdade nessa batalha. 

Se não o faz, só está a prolongar a guerra entre as partes.

O segundo argumento, ainda mais delirante que o primeiro, reza assim: Israel é o adulto da sala, a única democracia liberal do Oriente Médio, superior em termos econômicos e militares; por isso, não pode reagir às "provocações" dos seus inimigos na mesma moeda. Ao fazê-lo, estaria a colocar-se ao nível dos terroristas – e, mais uma vez, esticando a corda.

Nessa interpretação distorcida da realidade, grupos radicais como o Hamas ou o Hezbollah são meras crianças, com a irresponsabilidade própria da infância. Israel, como um pai compassivo, deve entender a imaturidade dos seus vizinhos e tolerar os mísseis como os adultos toleram os esguichos das pistolas de água nas festas de família

Em ambos os casos, Israel está impossibilitado de se defender. Com esses argumentos geniais, me permito questionar: Haverá alguma forma de defesa para a população judaica sem perturbar seus inimigos? Ou a ideia é ficar quieto, recebendo chumbo grosso dos terroristas islâmicos com o mesmo espírito e passividade de Madre Teresa de Calcutá?

A verdade é que o ser humano, de fato, tem dificuldade de conviver com a realidade. Quando os fatos são angustiantes, a mentes infantis procuram fábulas como refúgio do mundo real. Essa busca por simplificações convenientes não apenas distorce a compreensão do conflito, mas também perpetua narrativas falsas.

Em um mundo tão complexo como o nosso, a insistência em visões simplistas é um obstáculo para a verdadeira resolução dos problemas.



Alexsandro Nogueira é jornalista, escritor e músico. Colaborador do Blog