Capitã Olívia Benson (Mariska Hargitay), da série Law & Order, heroína de nossos tempos
Sou aluno disciplinado da Capitã Olívia Benson, a heroína de Special Victims da Polícia de Nova York. Não perco um capítulo. Outro dia ela disse uma frase que guardei como lição eterna: "a falsa denúncia de abuso sexual de uma mulher não é apenas um crime contra uma única vítima, e sim contra todas as possíveis vítimas".
Ou seja: quando uma mulher denuncia um homem não pode haver dúvida, tem que ser verdade, mesmo que não seja. O sistema de justiça, nos tempos de me too, não pode abrir essa brecha porque a histeria pública aniquila qualquer respaldo legal.
Talvez seja por este motivo que as investigações policiais têm identificado que há mulheres que por vingança, dinheiro, fama imediata (o mundo das celebridades também incorporou o discurso do emponderamento feminino pelo seu lado perverso) denunciam falsos assédios, estupros ou importunações. Há cada vez mais casos assustadores.
Se o ex-ministro Sílvio Almeida - um homem até então acima de qualquer suspeita - acompanhasse o dia a dia de Benson, na investigação dos crimes sexuais mais escabrosos do mundo, talvez nem chegasse perto de uma mulher, mesmo se ela pulasse em cima dele. Nos dias que correm, as palavras homem e agressor estão em simbiose profunda.
Com certeza, Almeida ainda estaria no cargo, brilhando com aqueles discursos de falso moralismo democrático e de exaltação das virtudes humanas, tirando suspiros de uma legião de admiradoras no campo das esquerdas e do progressismo abilolado. Mas não. Ele foi sentar logo ao lado de suas colegas de auditório e dar beijinhos amistosos na ministra Anielle, amiga de sangue de Janja.
No mundo identitário - repleto de som e fúria - em mulher não se toca, não se fala, você passa reto, porque o dedo em riste na sua direção é escândalo garantido em nome da importunação, do assédio (mesmo que sutil), da intenção de abuso, ou ainda, em caso extremo, de um estupro. Nestes casos, sempre é a mulher que está com a razão.
No Poder Judiciário, há uma militância de Juízas e Promotoras prontas para guardar a ferros qualquer um que seja denunciado por uma mulher (chamada sempre de vítima), mesmo em circunstâncias duvidosas, pois muitas vezes é melhor que não haja exceções às regras porque é desse jeito que a luta identitária pode enfraquecer e haver retrocessos.
Ou seja: quebrem-se as louças, mas mantenham a pose.
O homem é o agressor histórico, o cara com segundas e terceiras intenções, o lobo mau vestido de vovozinha, ou em pele de cordeiro, sempre pronto a dar o bote e engolir sua vítima, com sua famosa canalhice estrutural, formado pela pedagogia do garanhão irresistível.
Ser inocente é apenas um detalhe; todos carregam a culpa pelo fato de andar por aí com um pênis pendurado, ostentando macheza e poder...
Converse com qualquer mulher de minha geração e todas - digo TODAS - sempre tem um caso a relatar de impertinência sexual de um macho escroto e misógino. É uma constante. São revelações que se repetem numa escalada de vilania e degradação, dor e tragédia.
Converse com um homem e todos - digo TODOS - tem sempre um relato de uma sedução disfarçada, de um olhar lascivo, um vestido enlouquecedor, um decote pra lá de ousado, enfim, há sempre uma fêmea a provocar, como que inquirindo o coitado acerca do que você vai fazer diante "disso tudo".
Por isso - longe de brincar com qualquer estereótipo, pois aqui o assunto é sério - nesse mundão louco de deus estamos todos em perigo diante das tentações do machismo tóxico e do feminismo estridente.
Por isso, cresce em todos os países as estatísticas em torno dos celibatários, dos solitários, dos solteirões radicais, dos onanistas radicais, visto que se for estar com mulheres, como diria Nietsche, é bom carregar um chicote.
Há sempre relatos indignados de misoginia pecaminosa, das piadinhas babacas do tiozão do pavê, ao lado de acusações de que as mulheres enxergam em qualquer homem um ogro, um animal selvagem pronto a seviciar e estuprar, pois ainda não teve tempo de aprender novos hábitos da modernidade civilizada, pois essa é uma novidade recente e os costumes estão arraigados demais para desaparecer sem que haja um sistema de punição rígida e implacável contra os hereges, que só se intimidam diante do clamor histérico da opinião pública a colocá-los atrás das grades.
Assim estamos todos e todas à mercê dos olhos e ouvidos do grande Irmão, com sua onipresença torturante, sem saber como lidar com problemas que remontam a séculos e séculos, imortalizados na frase disruptiva de Simone de Beauvoir de que não se nasce mulher, torna-se mulher, significando que as diferenças sexuais são, afinal, barreiras que a cultura humana deveria alterar para que a sociedade pudesse viver em paz, sem guerra, com amor e harmonia.
Sou solidário à luta das mulheres. Mas sei que o embate cotidiano para superar os conceitos estabelecidos não dependem apenas de generosidade e boa vontade. As mulheres estão certas em manter vigilância constante. Se você leu aquele livro da Camille Paglia, "Personas Sexuais", deve saber que a genitália define a mentalidade e, assim, por consequência, a cultura e todo processo que a envolve o processo civilizatório.
Só que há muitos homens (calados, por enquanto) incomodados com o feminismo militante e denunciador, porque percebem exageros e, no final da linha, o fortalecimento de práticas que ultrapassam o bom senso e a noção de justiça. Tudo começa assim: uma reclamação aqui, outra ali, até que o ressentimento se adensa e se transforma em luta política, atualmente para o benefício da extrema-direita.
Não gosto do que estou vendo. Alguém tem que começar a debater esses assuntos como adultos, sem a ilusão de que vivemos numa sociedade em que todos são bons e virtuosos, repleto de boas intenções, e que os (as) canalhas são minorias e que a chamada denunciação caluniosa não é regra, mas uma reduzida exceção. Infelizmente, não é.
Não vamos ser ingênuos. Homens e mulheres trazem em suas almas sombra e luz e muitos vivem no inferno fingindo que nesse buraco só encontramos boas intenções. Tudo mentira.
Por isso, insisto nas perguntas: e se o ex-Ministro Silvio Almeida for inocente (ele jura que é)? E se Arielle Franco, a suposta vítima, foi engolfada numa trama política, além de nossa compreensão, num contexto em que não lhe tenha sobrado alternativa que não fosse fabular um assédio sexual que nunca existiu?
Esperemos as respostas.