Prefeita Adriane Lopes e a Senadora Tereza Cristina vão unir a direita, a extrema direita
e setores evangélicos para manter-se no poder em Campo Grande
- O meu amor por Campo Grande parece com a letra de uma música de Raul Seixas em que ele diz ser "raso, largo e profundo". Nos mais de 40 anos que vivi intensamente a cidade acompanhei seu desenvolvimento urbano, os movimentos políticos, seus avanços e retrocessos.
Escrevi muito sobre a cidade. Vi a transformação de uma província rural para um centro urbano moderno e pulsante. Sei que ainda o velho convive com o novo, mas isso é da natureza do processo. Essa é a nossa identidade.
Depois de mais de uma década perdida, com a cidade sucessivamente sendo dominada por gangues, mergulhada em projetos erráticos, leis suspeitas, corrupção desmedida, chegamos agora ao ápice com a família Lopes enterrando sonhos e esperanças de que podemos ser uma cidade decente, econômica e administrativamente planejada, dispensando aqueles grupos de interesse extrativistas que só pensam em abocanhar o grosso dos recursos públicos, deixando migalhas para a população.
Tenho dito - e repetido - que o melhor caminho é romper com o populismo que tem imposto custos imensos para Campo Grande, bagunçando suas contas, suprimindo perspectiva de conclusão de obras inacabadas, desarticulando a mobilidade urbana, criando um ambiente deletério nos setores de educação e saúde, fortalecendo assim esquemas nebulosos de contratação de empresas que sugam o erário em função de acordos subterrâneos que vem de décadas.
Não se trata de operação trivial. O prefeito que tiver coragem que colocar a mão na merda com seriedade vai sofrer. E ele não fará isso se não tiver uma base de pessoas virtuosas na Câmara Municipal, o que, nos dias que correm, é praticamente impossível.
O eleitor campo-grandense parece ter uma predileção obsessiva para escolher notórios porcarias para a vereança, que geralmente cria um cerco ao prefeito e o faz de refém de falcatruas.
Devo ressaltar que os melhores e mais decentes vereadores são sempre minoritários e não conseguem impor uma agenda que restabeleça a cidade no fluxo natural das coisas minimamente civilizadas. Uns porque não conseguem ser adultos, outros por apego a ideologia transversal e alguns por excesso de vaidade.
Vejamos agora o que está acontecendo. Temos no páreo (pelos menos por enquanto) a atual prefeita Adriane Lopes, André Puccinelli, Rose Modesto, Beto Pereira, Camila Jara e outros menos cotados.
As mulheres estão bem representadas. Bom sinal. Mas o problema não é este. A questão é o entorno dos candidato(a)s. O candidato(a) geralmente representa uma ideia, um consenso tácito, um projeto de poder. Nada a ver com gênero, raça e etnia.
Olhando à distância me preocupa a eleição da atual mandatária. Ela tem demonstrado incapacidade estrutural para gerenciar a cidade nos setores mais básicos. Sim, ela reclama agora da herança maldita, mas não fez absolutamente nada para reverter problemas cruciais lá atrás, ao contrário, mergulhou mais fundo na bandalha, permitindo que Janjo & camarilha definisse até as compras de papel higiênico.
Adriane fez uma aliança inteligente com a senadora Tereza Cristina. Esta, por sua vez, colocou sua tropa de choque dentro da administração municipal. Resultado: nada. Isso não alterou um milímetro os rumos da cidade. A cada roda de oração que realiza todas as tardes no gabinete do Paço, a cidade afunda um pouco mais.
A senadora Tereza promete trazer o bolsonarismo para dentro da campanha da prefeita. Ou seja: a direita e a extrema direita que, combinadas com parte dos setores das denominações evangélicas, garantiriam que ela fosse para o segundo turno, mesmo que sob os despojos da cidade. Trata-se de um jogo perverso. Campo Grande vai piorar se essa tese vencer. Será uma tristeza. Quem viver, verá. (Prometo analisar nos próximos dias mais profundamente essa questão).
Temos Rose Modesto, uma conhecida oportunista, cuja ambição em ser prefeita provoca muita desconfiança, sobretudo naqueles que conhecem a alma da coitadinha de Culturama. Sua turma é barra pesada. Durante a campanha veremos uma santa, depois, caso seja eleita, tomara que haja contrapesos na Câmara e na sociedade para segurá-la, pois veremos coisas do arco da velha.
Nem vou comentar sobre a candidatura de Camila Jara. Essa vive noutro mundo. Ela está tentando atrair Zeca do PT para ser seu candidato a vice, mas (não descartando a possibilidade) isso é o mesmo que entregar uma retroescavadeira nas mãos do petista histórico para ele cavar bem fundo o fim de sua carreira política. Cada um sabe a dor e a delícia em ser o que é.
No horizonte, vejo as candidaturas de Puccinelli e Beto Pereira como saídas menos dolorosas para o impasse em que vivemos. Claro, eles não são perfeitos, têm problemas de sobra, mas carregam vantagens a ser consideradas. Puccinelli tem experiência, conhece profundamente Campo Grande, sabe com quem conversar dentro do funcionalismo e tem contatos na esfera federal para reverter o caos financeiro da Capital.
Beto tem atrás de si o governador Eduardo Riedel e a experiência política de Reinaldo Azambuja. O PSDB - todos reconhecem isso - tem os melhores quadros técnicos dentro e fora do Estado. Talvez com Beto a cidade faça um choque liberal e consiga sair do marasmo. É difícil, mas Pereira sabe que não tem muitas saídas.
Outro aspecto positivo do candidato tucano: ele é aberto o suficiente para fazer uma gestão sem viés ideológico, sabendo que terá que convergir para posições ora à direita, ora à esquerda.
Beto também tem um entorno problemático, gente ciumenta, com boca grande. Mas ele é maleável, tem claras noções de decência e uma formação moral sólida decorrente da paternidade do ex-senador Valter Pereira, um símbolo de resistência democrática na época da ditadura..
Pra finalizar, vou aguardar agora o decorrer da campanha. Uma disputa eleitoral clarifica muitas coisas. Ela traz à tona o melhor e o pior de cada um. Assim, como os eleitore(as)s, podemos mudar nossos conceitos quando homens e mulheres são testados pela realidade.
O candidato ideal não existe. Somos todos feitos do mesmo barro. A vontade popular é a formulação de um contrato social no qual a maioria da sociedade assina referendando (a seu ver) o melhor nome para a cidade.
Esperemos assim que se faça a melhor escolha. Até o momento, estamos optando pelo pior. A realidade mostra isso. É fácil provar: olhe em volta.