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O que precisa ser discutido na eleição para prefeito de Campo Grande



Vocês devem estar acompanhando os primeiros passos para o processo eleitoral para a escolha do futuro prefeito de Campo Grande, o principal colégio eleitoral de Mato Grosso do Sul.
Aqui e ali a mídia coloca nomes para especulação, os partidos se movimentam, os "especialistas" fazem suas contas e leituras, enfim, está na praça o ensaio geral do que ocorrerá no próximo ano.

Olhando para trás, sabemos que o quadro eleitoral é dinâmico, ou seja, nomes que hoje aparecem, amanhã podem deixar de existir, pois no momento quem dita as circunstâncias é a provisoriedade.

Os possíveis candidatos - pelo menos aqueles que estão na boca da dona Candinha e do seu José - fazem seus cálculos, embora todos trabalhem com margens de incertezas que separam o sonho da realidade.

Talvez vocês devam imaginar que Campo Grande não é mais a mesma cidade que estava nos nossos corações e mentes em anos recentes. Vocês devem estar lembrados que o último prefeito eleito decidiu deixar o cargo para disputar a governadoria, acreditando que "já estava eleito" com base em pesquisas que ele mesmo patrocinava.


Engolimos essa piada sem grandes questionamentos. No fim, tratou-se de um caso de autoengano inédito, mas isso agora é passado, melhor deixar pra lá.

Devemos olhar para a próxima eleição da Capital com olhar de maior alcance e grande amplidão. É preciso reconhecer que o último prefeito que fez transformações estruturais na cidade foi André Puccineli. Claro que aquele era um momento que não se repetirá mais.

Se Puccinelli, por exemplo, tornar-se candidato, ele não poderá reivindicar seu próprio passado dentro de sua candidatura, simplesmente porque esse legado foi desatualizado com outras demandas e visões de mundo da própria sociedade.

Reparem: os prefeitos que se seguiram no tempo - Nelsinho Trad, Alcides Bernal, Gilmar Olarte, Marquinhos Trad e, agora, Adriane Lopes - representam um bloco só, ou seja, uma combinação cuja natureza dismórfica explica as razões pelas quais a cidade travou e quebrou, sem que ninguém a coloque em perspectiva e anuncie rumos qualitativos para que possamos engrenar um circulo virtuoso de desenvolvimento econômico e social.

Analisando o fenômeno como objeto - como costuma fazer a turma da academia - podemos dizer que nos últimos 20 anos Campo Grande vem sendo gerida por populistas de vários matizes, que misturam assistencialismo, clientelismo, patrimonialismo e boas doses de corrupção institucional, edificando tijolo a tijolo uma cidade que avoluma problemas sem soluções à vista.

Este bloco populista realizou uma obra fantástica: nos fez acreditar que não temos outra alternativa que não seja aceitar o medíocre menos pior.


O candidato ou candidata sobe no palanque e pronuncia palavras vazias, faz promessas salvacionistas, jura que todos terão assistencialismo na veia, faz cara de coitadinho, conta seu passado de sofrimento, finge que ama a pobreza, compra lideranças de bairro e pastores de igreja, e assim forma um pacto com o coitadismo, sem mostrar propostas consistentes que demonstrem, com transparência, como vai tirar a administração municipal do atoleiro financeiro, como dotará a cidade com saúde e educação de qualidade, e, mais importante, como ajudará o município a gerar empregos bem remunerados e, desse jeito, melhorar a renda geral e distribuí-la com mais justiça.

Sim, muitos falarão que desenvolverão programas de atração de empresas, e saberão aproveitar a vibe da implantação da rota bioceânica, mas não explicarão o que vão fazer com uma população cuja maioria (cerca de 60%) ganha na faixa de até dois salários mínimos, tem escolaridade sofrível, e não estão minimamente preparados para as novas tecnologias que estarão cada vez mais presente no dia a dia.

Temos que torcer para que os candidatos tenham uma compreensão profunda que campanhas populistas são regressivas.


Campo Grande é uma cidade cujo PIB está muito concentrado no setor de serviços. Alguém poderá apresentar planos inovadores para a diversificação da nossa economia, melhorar a mobilidade, equacionar com racionalidade a questão do transporte coletivo, enfim, abandonar a ideia de que a cidade é um mero ajuntamento de bairros que não se conectam entre si e, sim, pode ser um conjunto mais homogêneo com identidade cultural e maior espírito republicano.

Outro ponto que o cidadão(ã) deve ficar atento são os problemas de segurança pública, pois o crime organizado já está se assenhorando de partes substantivas do município, com um olhar muito mais à frente do que nossos atuais "administradores". Órgãos importantes do Estado e do Município não podem ser dominados por bandidos. Todos sabem do que estou falando.

A imprensa, neste momento, tem uma oportunidade de ouro de contribuir colocando em cena nossos dramas, nossos erros e nossas alternativas, negando-se inclusive alimentar nome de gente de quinta categoria, como vem fazendo, não sei se por malícia ou ingenuidade.


Quem ama Campo Grande não faz isso.

O rame-rame banal em torno de candidaturas de baixo nível sob o argumento de que "fulano e sicrano têm popularidade" podia muito bem ser redirecionado para o debate sobre quais perfis ideais seriam indicados para dar conta de descascar esse imenso abacaxi que se chama Campo Grande. Devemos começar por aí.

Voltarei ao assunto.