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Os sentimentos das ruas

 

Reinaldo Azambuja e André Puccinelli são alvos preferenciais da esgotosfera da atual campanha


Dante Filho*

Outro dia, lendo a coluna do jornalista Manoel Afonso, ele lembrou que os pré-candidatos ao governo, neste momento, estão evitando críticas diretas aos concorrentes por causa de possíveis alianças no segundo turno. “Todos estão corteses”, ironizou. A observação é verdadeira, principalmente porque o quadro político é provisório, e a posição dos atores no palco só ficará demarcada a partir de agosto, com as convenções partidárias. 

Por enquanto, só há militância e marketing. Pesquisas identificam aspectos do cenário, preferências pontuais, embora existam pessoas que insistem desde já cravar o que vai acontecer no futuro. 

Tudo indica que mais de 40% do eleitorado ainda não colocou na conta de sua vida cotidiana as eleições deste ano, preocupado com preço da gasolina e da comida. 

Os pretensos candidatos estão fazendo uma espécie de ensaio, testando aqui e ali o eleitor, tentando descobrir o que vai pegar na campanha. 

Todo mundo chuta, mesmo porque o único instrumento que temos são dados estatísticos, que são invariavelmente combatidos porque contrariam nichos de eleitores engajados que vêem nos resultados manipulações conspiratórias, ora dos bancos, ora das centrais sindicais, ora dos interesses internacionais. 

Passei quase quinzes dias em Campo Grande, conversando com pessoas de todas as origens sociais, em vários bairros, com políticos treinados, com alguns candidatos, com jornalistas e marqueteiros. Sim, trata-se de um microcosmo, embora seja possível ter uma percepção de alguns sentimentos coletivos, que não são identificados por pesquisas, porque foge da ordem numérica e penetra nos elementos subjetivos das sensações. 

Qualquer pessoa comporta-se com maior desenvoltura em conversas desinteressadas do que com um pesquisador profissional com suas listas pré-determinada de questões. 

Uma conversa espontânea rende mais do que um questionário. Mesmo assim, a pesquisa sistematiza e organiza tendências e preferências momentâneas, algo que não acontece numa conversas de bar, dentro de um taxi ou mesmo na fila de um banco. 

Algumas impressões que tive de imediato:  a fama de Puccinelli como grande tocador de obras e administrador arrojado continua intacta; Marquinhos está fragilizado por conta do caos no trânsito, obras inacabadas, excesso de mentiras e supostos escândalos  sexuais;  Rose Modesto tem vasta simpatia em bairros das regiões norte, Tiradentes e Prosa, mas a maioria dos eleitores acha que não é a vez dela; Riedel é pouco conhecido pessoalmente, mas é considerado um candidato forte por causa do apoio da máquina, podendo ser uma opção de renovação; Capitão Contar tem forte preferência no centro, nas regiões da base aérea e de parte da elite tradicional da cidade. 

Estas impressões são generalizantes. Não dá pra ir fundo em cada uma delas por que o eleitor desconfia de muitas perguntas e, quando descobre que está sendo “investigado”, se fecha, muda de assunto. 

Poucos se comprometem verdadeiramente com preferências políticas, porque a opinião geral é de “ninguém presta, todos são bandidos e ladrões”. 

Diante desse quadro, os candidatos têm traçado nessa fase de pré-campanha suas estratégias de contatos, formalização de acordos sociais com grupos de interesse, contratação de equipes de marketing, pessoal de apoio, muitos ocupando cargos em comissão em prefeituras, governos, câmaras municipais etc. 

Conforme divulgado na imprensa, só a prefeitura de Campo Grande tem nas ruas 9 mil servidores comissionados apoiando o ex-prefeito ao custo de R$ 30 milhões mensais. 

Expandindo este modelo para todo o Estado, o eleitor pode imaginar o quanto de gente e dinheiro uma disputa eleitoral utiliza, isso sem contar os recursos do fundo partidário e da iniciativa privada. 

Noutras palavras, o contribuinte paga para que candidatos tenham maior ou menor empuxo na disputa pelo poder. Por isso, os tribunais eleitorais deviam ter um sistema de fiscalização e transparência para saber como o dinheiro tem irrigado campanhas que, aparentemente, não têm nenhuma sustentabilidade visível. É preciso mais cobrança da imprensa.

 Campanha Submersa

Todos os candidatos ao governo têm uma esgotosfera para chamar de sua. Acompanhando cada uma delas, a mais agressiva é a do ex-prefeito Marquinhos Trad. Suas vítimas preferenciais são o ex-governador André Puccinelli e o governador Reinaldo Azambuja. Vídeos, memes, animações e fake news, os tratam como criminosos perigosos. Tem material pesado. Muita coisa amparada em blogs obscuros de origem desconhecida. Fernandinho Beira-Mar deve estar achando engraçado.

 

* Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de Mato Grosso do Sul