Alexsandro Nogueira: Para depois da distração
Um toque de mistério com a morte do Ministro do STF Teori Zavascki mexeu com a imaginação popular. Na América, o presidente Trump promete não dar moleza para imigrantes latinos e muçulmanos.
No rigoroso inverno canadense de Quebec, atiradores abrem fogo contra uma mesquita matando seis pessoas.
Pronto, 2017 começou em ebulição, mas o Brasil não está a todo o vapor.
Por aqui, o País segue vagaroso em sua marcha natural da vida e caminha repercutindo o desastre aéreo com Teori, as facções que se matam nos presídios, a crise financeira nacional e a prisão do empresário Eike Batista, em uma das fases da Operação Lava Jato.
O Brasil urgente pede outra coisa: o fim do desemprego, uma reforma administrativa para enxugar os gastos públicos e uma ação efetiva do Governo Federal para sairmos do caos financeiro.
Para efeitos de discussão, um outro Brasil quer distração e confabula um responsável pela morte de Teori.
Não importa se houve falha do piloto, mau tempo e que existe uma dose de mistério quando se interrompe o curso natural da vida. É preciso arrumar um Lee Oswald para o caso e puni-lo.
E nesse momento todos os caminhos apontam como suspeitos os nomes citados na delação da empreiteira Odebrecht, lista que estava nas mãos de Teori e seria homologada já no início de fevereiro.
Os critérios para escolha do(s) principal vilão(ões) desta lista ainda estão bagunçados, mas fariam do escritor russo Fiodor Dostoiévski um mero aprendiz.
Enquanto isso, o segmento desqualificado das redes sociais segue tecendo suas teias incompreensíveis sem qualquer lógica e aponta Lula como o grande artífice da trama.
Outros, mais entusiastas, preferem um enredo com intriga palaciana, sabotagem de aeronave e colocam o presidente Temer como a mente perversa que arquitetou a tragédia.
O curioso desta história toda é que em questão de meses, Teori passou de vilão das redes sociais - quando descartou os grampos em Lula como prova na Operação Lava Jato - a mocinho dos episódios mais recentes da mesma investigação.
Aqui faço um constatação: é comovente a necessidade que parte dos brasileiros tem para fabricar heróis. Teori Zavascki era só um ministro que exercia suas funções, mas parte da população se agarrou ao seu personagem de juiz coerente como se ele fosse a lâmpada de Aladim da redenção nacional.
Para completar, tivemos ainda o exemplo mais sólido de bobagens com a declaração do juiz Sérgio Moro tratando Teori como “herói brasileiro”, o que demonstra a superficialidade e a desinformação que pautam grande parte da opinião pública assim dita “formadora”.
Depois dessa declaração, Moro deu direito a fala a um bando de desinformados que, anteriormente, só falavam algo no bar, depois de uns tragos e sem causar dano à coletividade.
Antes, diziam a eles para fechar a boca enquanto agora, tem o mesmo direito a argumentar que um ganhador do Nobel. Lamentamos.
* Jornalista e escritor de MS