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José Luiz Magalhães de Freitas: A reforma do ensino médio

Artigo publicado originalmente no jornal Correio do Estado de hoje:

Temos visto, na mídia, informes publicitários oficiais enaltecedores da reforma do ensino médio. Dentre os avanços alardeados está o rompimento com a estrutura falida do ensino médio e a “flexibilidade” para aluno poder escolher as disciplinas que vai cursar. 

Não há como discordar de que o referido nível de escolaridade está na UTI há algum tempo e muito defasado em relação à maioria dos países desenvolvidos, em que o aluno se direciona para a área que tem mais afinidade. 

Nesses países, nessa idade escolar, os estudantes devem identificar suas preferências entre as áreas de ciências humanas, exatas, biológicas ou tecnológicas. No Brasil a maior parte dos estudantes faz sua escolha no momento de ingressar na universidade.

Diferentemente do resto do mundo, em nosso país ocorre algo inaceitável em relação à escolha dos cursos pelos estudantes. Apesar das mais de quinhentas modalidades de cursos de graduação, aproximadamente a metade da população estudantil brasileira está concentrada em apenas três cursos: Direito, Administração e Pedagogia. 

São cursos de caráter generalista, sem aprofundamento em temáticas específicas. Embora possibilitem um amplo leque de possibilidades de atuação profissional, a formação recebida por estudantes desses cursos tem sido bastante questionada. 

No caso dos cursos de Direito existe uma prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que visa impedir a entrada de bacharéis muito despreparados no exercício da profissão de advogado. Não há dúvida de que um ensino médio melhor ajudaria a evitar distorções desse tipo. 

No Brasil já houve grandes reformas educacionais e a forma de implementação da atual lembra aspectos da reforma “Francisco Campos”, no início do governo Vargas. Dentre as grandes mudanças foi proposta a fusão dos ramos Aritmética, Álgebra e Geometria em uma única disciplina chamada de Matemática. Além disso, em abril de 1931 foi firmado, por meio de decreto, um acordo luso-brasileiro oficializando uma ortografia simplificada. 

Essas reformas eram urgentes e necessárias, mas com a discussão delas Getúlio Vargas ocupava a classe dos professores, tendo tempo para viabilizar seu projeto de poder.   

Apesar das boas intenções manifestadas na medida provisória, essa proposta do “novo ensino médio” parece equivocada em muitos aspectos. Dentre os principais destacam-se: a) Baixo investimento em infraestrutura física e humana das escolas; b) Associa escola em tempo integral com reforma do ensino médio; c) Atropela a discussão da Base Nacional Comum Curricular; d) Desconsidera as articulações intra, inter e trans na abordagem das disciplinas escolares; e) Não dialoga com a comunidade de educadores e a população.


Não há dúvidas sobre a necessidade de reformar o ensino médio. No entanto, analisando os discursos oficiais e a forma antidemocrática como a reforma vem sendo conduzida pelo Ministério da Educação, fica claro que ela não ocorrerá em curto prazo. 

Nos perguntamos: será que querem implantar essa reforma do ensino médio a partir de 2017 ou visam, por meio de atropelamento midiático, provocar discussões em torno dela para ocupar os educadores, enquanto se dedicam a outras prioridades de governo?

Professor do  Instituto de Matemática – INMA – UFMS
Email: joseluizufms2@gmail.com