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Landes Pereira: As eleições em Campo Grande




Artigo publicado originalmente na edição de hoje do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul:

Há grande desencanto da parte dos eleitores campo-grandenses frente à exa-gerada pulverização partidária e de candidatos a prefeito. Dos quinze postulantes ao cargo mais de dois terços não são levados a sério pelos cidadãos. Mesmo assim, os que encabeçam a lista,não são bem vistos devido ao passado recente; e os demais são desconhecidos.

Para uma visão primeira, pode-se dividir, para efeito de análise, em três blocos: os que lideram as pesquisas (Marcos Trad, Rose Modesto e Alcides Bernal), os que mostram algum potencial político (Alex do PT, Athayde Neri, Marcelo Bluma e Coronel Davi), e os demais. O interessante é que alguns candidatos a vice são mais preparados que os titulares das legendas.

Trad (PSD) lidera a pesquisa, até agora, ainda no vácuo do desempenho político familiar (pai e irmãos); entretanto, o apoio ostensivo de Nelson Trad Filho, envolvido na operação Coffee Break, e da irmã do empreiteiro Amorim não o deixam deslanchar. 

Em segunda posição aparece Rose(PSDB), que se auto intitulava “a Morena Bonita de Campo Grande” quando era do esquema de Gilmar Olarte; conta com o apoio do governador Reinaldo Azambuja e da máquina governamental, mas patina porque seu discurso não entusiasma o eleitorado, apesar de ser vice-governadora. 

O prefeito Bernal (PP), apesar do desgaste de uma deposição e de uma administração considerada ruim, aparece em terceiro lugar nas pesquisas; já foi vereador e deputado estadual, e a máquina da Prefeitura, evidentemente, ajuda no desempenho eleitoral.

Infelizmente, ao que parece, haverá um segundo turno entre dois deles. Entretanto, se ao invés das urnas tivessem que passar por uma entrevista para conseguirem o emprego, nenhum deles apresenta as condições técnicas e administrativas exigidas para o cargo.Entretanto, o eleitorado não tem alternativa.

No segundo bloco quatro candidatos são vistos com simpatia por grupos de militantes, mas sem chance de chegarem ao segundo turno.O vereador Alex do PT, em quarto lugar na pesquisa, surpreende porque não está sendo hostilizado pelos “caçadores de petistas”, e tem a aguerrida militância do partido ao seu lado – apresenta um moderado discurso de esquerda, sem agressividade. Bluma (PV) é conhecido dos campo-grandenses porque já foi vereador, tem um bom discurso mas não tem estrutura de campanha; poderá crescer um pouco. 

Athayde (PPS) é um bom candidato, conhecido do eleitorado, já foi vereador, mas seu discurso é fraco, apesar de ele ser advogado e ex-secretário de cultura – além do mais, o PPS é visto como sendo linha auxiliar do PSDB; dizem que ele saiu candidato para que a vereadora Luiza Ribeiro não levasse o partido para uma coligação com Bernal. Coronel Davi (PSC), de direita, poderá perder votos se continuar com o atual discurso.

Os demais candidatos estão aí apenas para justificarem as cotas do Fundo Partidário, e tentarem a eleição de alguns vereadores. Nada é impossível no atual contexto político, mas será difícil algum deles entusiasmar o eleitorado. O PMDB que comandou a política local por mais de vinte anos não tem candidato a prefeito, desapareceu, apenas tenta manter alguns vereadores, sem qualquer comprometimento programático ou ideológico.

No que diz respeito aos candidatos a uma vaga na Câmara de Vereadores, é um cenário nostálgico, muito triste devido ao baixo padrão cultural médio dos postulantes. Principalmente, ao se analisar o comportamento dos que pretendem a reeleição, não escapa um. Infelizmente alguns deles se reelegerão devido aos redutos mantidos pelos cofres públicos.

*Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política.