Chegamos quase a metade do ano e eu sigo sem confiança de acreditar que veremos alguma coisa boa no Brasil ainda em 2025. Não porque eu seja pessimista, mas porque não acredito em quem comanda o País.
Há um tempo em que não vivo a mesma era das outras pessoas. A casa onde moro, na vila Jacy, assim como todos os meus vizinhos, parecem estar ainda em 1986.Ando pela cidade e um raio de sol ilumina meu coração quando cruzo o estádio Morenão, de 1970, ou passo pelo monumento do Obelisco, de 1933.
Agora, enquanto esboço esse texto, o álbum “Our Man in Hollywood”, do maestro Henry Mancini, lançado em 1963, toca na minha playlist, formada em 2017, com uma novidade atrás da outra.
Até aqui, não apresento nenhuma evidência de que esteja mesmo em 2025.
E a música não é meu único caminho para me isolar nas décadas passadas. Na literatura, venho me habituando a farfalhar as páginas do livro do escritor nordestino Joel Silveira, intitulado “Dias de luto”, um romance ambientado no sertão brasileiro, rico na descrição de sentimentos difusos, cuja primeira edição foi publicada em 1985.
Sim, o passado é um refúgio dos saudosistas e dos melancólicos como eu. Os limites que dividem eras temporais se deu no momento em percebemos que não havia mais para onde ir.
Não por falta de talento, mas de caminhos. Abrimos brechas para que tempos pretéritos tomassem conta do presente de uma forma que tudo começasse de novo.
Vale lembrar que esse movimento foi feito pela primeira vez pelos modernistas lá em 1922. A tal turma de Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.
O passado não é mais coisa de velho. Minha filha (ela de novo) que nasceu em 2010, ouve diariamente o grupo Now United. Ao mesmo tempo, acaba de descobrir a canção de Vinicius de Moraes e Toquinho, “Onde anda você”, lançada em 1977.
Para ela, a voz do poetinha é algo diferente, novo. Ela está sempre cantarolando a melodia, enquanto fica estudando no quarto!
Talvez 2025 esteja mesmo acontecendo. Mas na minha vida, o tempo escorre pelas mãos, mas fora do compasso. E Pode ficar assim. Ao menos, o passado ainda me consola com coisas boas.