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Dante Filho: o jornalismo de MS está operando como máquina de propaganda da Polícia Federal


Desembargadores afastados do cargo no TJ/MS
 na Operação "Ultima Ratio"(Último Recurso)


Tem uma coisa errada acontecendo na cobertura jornalística da chamada Operação Última Ratio: os veículos de imprensa (não todos) que estão dando destaque a essa pauta agem inadvertidamente como publicitários da causa (sem ofender os profissionais dessa área) da Polícia Federal, divulgando versões Tunilaterais dos fatos. 

Com todo respeito, está pegando mal.

Não vou citar nomes. Por enquanto. Mas o que tem sido levado ao público são relatórios (ou seja, versões e narrativas) da PF numa ação combinada com o jornalismo de sensação. Não seria mais fácil publicar os relatórios na íntegra?

A sociedade sul-mato-grossense sabe que vários dos desembargadores citados não são anjinhos. Há décadas essa turma vem operando como verdadeira quadrilha no nosso Judiciário. No tempo em que o bicheiro Jamil Name era vivo eles adquiriram tecnologia e expertise e implantaram o esquema de venda de sentenças e outras cositas mas. 

Jamil & sócios criou um sistema de corretagem no qual ele garimpava casos rentáveis e os desembargadores decidiam sobre causas milionárias para favorecer grupos específicos do judiciário. O mesmo esquema funcionava no Tribunal de Contas. Assim, todos estavam felizes e a vida seguia como se fosse uma festa eterna. 

Com o desmantelamento do esquema do bicheiro, abriu-se um vácuo e os novos operadores estavam tão donos de si que não perceberam os erros em série que vinham cometendo. Exageraram.

É preciso que se saiba que no TJ/MS tem gente séria e correta. Esse pessoal agora tem o domínio dos fatos. O problema - alguns observam - é que a PF está agindo com sanha por holofotes, municiando jornalistas para fazer o serviço sujo, não percebendo que degradar a instituição é o caminho mais curto para inviabilizar lá na frente toda a operação. 

Outro dia, sem querer, acompanhei o telefonema de um jornalista ao advogado de um desembargador que nem devia ser citado como parte do caso (mas a PF insiste que assim tem que ser senão a fonte de informação seca). O lance entre essas pessoas é muito esquisita.

Em certa altura da conversa, o advogado ficou irritado e gritou: "as conclusões do delegado (da PF) são estapafúrdias!", e elencou uma série de contraprovas que desmentiam cabalmente o texto literário da PF. 

De meu lado fiquei em silêncio, esperando que no dia seguinte o "outro lado" fosse noticiado. Por incrível que pareça, nenhuma linha, uma única aspas, uma frasezinha que fosse. Fiquei enojado.

Assim, o jornalismo vira militância ou um instrumento punitivo que varre o Estado democrático de direito para debaixo do tapete. 

O jornalismo não é ciência. Mas é um instrumento ético. Todos nós profissionais erramos. Todos nós, sem exceção, já beijamos a cruz do pecado. Mas nesse caso, acho que o pessoal, no mínimo, tinha que ter um pouco mais de responsabilidade. 

Alguns desembargadores merecem ir para a cadeia. Outros são verdadeiros crápulas. Mas a imprensa não pode ser massa de manobra de interesses políticos da PF para punir essa gente. 

Tá ficando chato.