Pages

A imprensa e as denúncias de campanha


É curioso ver como a imprensa em Campo Grande trata denúncias de campanha. 

O assunto do dia envolve o candidato Marquinhos Trad (PSD), em primeiro lugar nas pesquisas na disputa que ora segue. 

A pauta é uma só: um pequeno empresário local, Arnaldo Brito de Moura Junior, cuja irmã (Sandra Britto de Moura) trabalhou no setor financeiro do candidato em 2014, alega ter sido ludibriado pelo agora deputado por ter servido de "laranja" para esquentar doações eleitorais no valor de R$ 50 mil e que, por isso, recebeu multa da justiça eleitoral no valor de R$ 264 mil por irregularidades encontradas entre o valor doado e o faturamento anual da empresa. 

Ele alega ter procurado Marquinhos para resolver a situação, mas seu intento foi em vão. 

Agora, procurou a Superintendência da Polícia Federal para denunciar a ilegalidade e o candidato. 

Vou ficar, por enquanto, nos principais veículos do dia, para analisar a situação. 

O jornal Correio do Estado ignorou a questão. 

O Estado de Mato Grosso do Sul deu manchete: "Marquinhos é investigado pelo MPF por doação ilegal para campanha". 

O site Midiamax registrou que o candidato foi vítima de extorsão, sem grandes destaques, mas forneceu informações bem detalhadas da denúncia. Inocenta Trad. 

E o Campograndenews primeiro, às 19 horas e 12 minutos de ontem, postou "Polícia e MPF investiga caixa 2 na campanha de Marquinhos em 2014", e, três minutos depois, apresentou nova postagem "Candidato nega denúncia e diz estar sendo extorquido por empresário". 

Apresentou os dois lados. Correto. O leitor que julgue.

Notem: o mesmo fato e tratamentos editoriais diferentes. Qual a verdade verdadeira, enfim? 

Nenhuma. Só fumaça.

Ou melhor: como essa "verdade" será manipulada pelos magos de campanha. 

O Editorial do jornal O Estado MS ressalta que "independentemente da temporalidade da acusação é preciso esclarecimentos e instrução dos fatos". 

Mesmo assim, dá extrema relevância ao acontecimento, visto que escancara a pauta no alto da primeira página. Vai propiciar uma bela imagem na TV.

No fundo se trata disso mesmo, "a temporalidade" da denúncia. 

Pergunta-se: por que Arnaldo Britto não apresentou a denúncia no momento em que foi notificado? Ele está a serviço de alguém? Ele se dispôs a, mais uma vez, ser "laranja" no processo eleitoral? 

Outra questão: por que candidatos, no momento das campanhas, na sofreguidão de levantar recursos, pragmaticamente, se envolve com pessoas cujos critérios morais são fluídos e incertos? 

O que acontece nessa hora? 

Por que o jogo bruto prevalece, deixando cadáveres insepultos pelo caminho, que se transforma em mortos-vivos nessa hora? 

O assunto vai longe...

Cada veículo tem sua linha editorial. E cada um tem suas preferências (e conveniências)  eleitorais. Certamente, numa questão dessa ordem, fica claro tendências oportunistas, percebendo-se claramente a serviço de quem cada um está se pautando. 

Houve uma acusação grave. O candidato está se defendendo. Os marqueteiros que desejam esfolar Marquinhos vão usar o fato ad nauseam com todos os armamentos possíveis. Depois das eleições, o assunto é esquecido. 

É o jogo: eles querem derrubar o candidato do pódio, na base de que "todos somos iguais", todo mundo fez algo de errado no verão passado, por isso cada um terá contas a prestar para o eleitor nesse momento. 

Maquiavel, no século XVI, escreveu "O Príncipe", deixando claro que "ética" e "política" são categorias diferentes do pensamento humano. 

Atualmente, há esforço tremendo da sociedade em fazer a aproximação dessas duas esferas de conhecimento em nome do bem comum. 

Por isso, é fundamental haver cobranças do poder. E cada candidato deve ter claro que é isso que, afinal, está em jogo. O resto é barulho.